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22 dez 2024, dom

O universo Infinito que cabe na palma da mão: O enigma de No Man’s Sky

Imagine entrar em um universo virtual onde as estrelas, planetas e criaturas são tão vastos que até mesmo seus criadores não exploraram tudo. Parece surreal, não é? Isso é No Man’s Sky. Lançado pela pequena Hello Games, o jogo desafiou todas as expectativas com sua promessa de um universo praticamente infinito, gerado conforme você explora. Mas como exatamente isso funciona? Como pode um jogo entregar um espaço imenso sem ocupar uma quantidade absurda de memória?

A magia dos algoritmos: criando um universo sem limites

A primeira coisa que impressiona em No Man’s Sky é o fato de que cada planeta, estrela e criatura é criado proceduralmente. Isso significa que, ao invés de tudo estar pré-programado, o jogo gera o conteúdo conforme o jogador avança, usando uma série de algoritmos matemáticos que determinam as características de cada elemento. Se você entrar em uma nova galáxia, a paisagem à sua frente será calculada em tempo real, com base em combinações de variáveis predefinidas. Em essência, o jogo cria mundos à medida que você os descobre.

Esses algoritmos são baseados em algo chamado procedural generation. O jogo não tem um único “plano mestre” que dita onde os planetas estão ou como eles se parecem, o que significa que os próprios desenvolvedores também não sabem o que você encontrará. Isso cria uma sensação de descoberta constante, de algo verdadeiramente único.

Fatos que parecem ficção: explorando o impossível

No Man’s Sky possui 18 quintilhões de planetas. Sim, você leu certo: 18.000.000.000.000.000.000! Para colocar isso em perspectiva, se cada um desses planetas fosse visitado por apenas um segundo, levaria mais de 500 bilhões de anos para explorar todos eles. O fato de que isso é possível com um jogo que, em termos de armazenamento, ocupa cerca de 10 GB de memória, é um dos maiores paradoxos dos jogos modernos. Como é possível criar algo tão vasto em um espaço tão pequeno?

A resposta está no modo como os dados são comprimidos e expandidos. Em vez de armazenar todas as informações de cada planeta, o jogo utiliza algoritmos que geram o conteúdo em tempo real. Isso economiza uma quantidade colossal de espaço, pois o jogo não precisa armazenar cada detalhe de cada planeta antecipadamente. Em vez disso, ele armazena apenas os “ingredientes” e deixa o algoritmo criar o “prato final” enquanto você joga.

Uma obra de arte matemática: O papel dos algoritmos

O coração desse sistema é um conjunto de algoritmos matemáticos sofisticados. Eles combinam variáveis como tipo de terreno, atmosfera, vegetação, vida selvagem e até o clima para gerar mundos únicos. Cada planeta, por exemplo, pode ter uma combinação infinita de características, desde montanhas gigantescas cobertas de neve até desertos tóxicos, com vida alienígena adaptada a cada ambiente.

Os desenvolvedores de No Man’s Sky, liderados por Sean Murray, se inspiraram na geometria fractal, onde padrões complexos podem ser gerados por fórmulas matemáticas simples. Esse tipo de geometria é ideal para criar paisagens, estruturas e até criaturas de formas infinitas sem precisar de uma quantidade enorme de dados armazenados.

Criaturas únicas, mas imprevisíveis

Além dos planetas, a vida selvagem de No Man’s Sky é outro exemplo de como a geração procedural pode criar cenários imprevisíveis. Muitas vezes, os jogadores se deparam com criaturas bizarra: imagine, por exemplo, um ser que mistura características de répteis, pássaros e anfíbios. Essas combinações, embora pareçam absurdas, são o resultado da geração procedural que cria essas formas únicas com base em várias combinações possíveis.

Os próprios desenvolvedores admitem que algumas criaturas geradas pelo jogo os surpreenderam — e nem sempre da melhor forma. Em alguns casos, a geração procedural resultou em criaturas anatomicamente estranhas, algo que virou piada entre a comunidade de jogadores. Porém, isso apenas reforça o caráter imprevisível do jogo: nem mesmo seus criadores têm controle completo sobre o que é gerado.

O sonho infinito e a realidade controversa

Apesar de sua ambição incomparável, No Man’s Sky teve um dos lançamentos mais controversos da história dos games. Anunciado como uma revolução, o jogo não entregou, de imediato, muitas das promessas feitas antes do lançamento. O resultado foi uma enxurrada de críticas e uma comunidade frustrada, que acusou a Hello Games de exagerar nas promessas. No entanto, ao longo dos anos, a empresa trabalhou incansavelmente para adicionar conteúdo e corrigir problemas. Hoje, o jogo é celebrado como uma verdadeira obra-prima, finalmente cumprindo sua proposta original.

Em uma reviravolta digna de filme, No Man’s Sky se recuperou do desastre inicial e conquistou uma base de jogadores leais, que continuam explorando o universo quase infinito que o jogo oferece. Isso mostra como a perseverança dos desenvolvedores transformou uma polêmica em sucesso.

Fatos contraintuitivos e curiosidades chocantes

  1. Tamanho colossal, mas extremamente eficiente em memória: O jogo inteiro, com seus 18 quintilhões de planetas, ocupa menos espaço no seu dispositivo do que a maioria dos jogos de ação convencionais. Como isso é possível? A maior parte do conteúdo é gerada em tempo real por algoritmos baseados em seed. Ou seja, No Man’s Sky armazena fórmulas matemáticas, não o conteúdo em si, o que o torna extremamente leve em termos de armazenamento.
  2. O jogo cria o que você vê, mas “destrói” o que não está mais em foco: Em vez de manter planetas inteiros na memória do sistema, o jogo apenas gera o que você está vendo no momento e apaga o que você já deixou para trás. Assim, embora você possa revisitar planetas que explorou, eles são recriados da mesma forma com base na fórmula matemática original, economizando poder de processamento.
  3. Nem os desenvolvedores sabem o que o universo contém: A equipe da Hello Games não consegue visualizar todos os planetas de No Man’s Sky porque eles são gerados proceduralmente. Ao contrário de outros jogos, onde os desenvolvedores controlam cada detalhe do cenário, neste, o próprio algoritmo é o artista.
  4. 99,9999% dos planetas nunca serão visitados por ninguém: Considerando o número de jogadores ativos e o ritmo em que eles exploram, a maior parte dos planetas no jogo jamais será vista por um jogador humano. Isso torna cada descoberta um momento único, praticamente impossível de ser replicado por outra pessoa.
  5. Criaturas bizarras surgem naturalmente: A vida alienígena de No Man’s Sky é um verdadeiro show de bizarrice. Como o sistema procedural é capaz de combinar características de diferentes tipos de vida, surgem criaturas que, no mundo real, seriam anatomicamente impraticáveis, como animais que voam com braços em vez de asas, ou criaturas com múltiplas cabeças que desafiam as leis da física.
  6. Exploração mais longa que a idade do universo: Se uma pessoa tentasse visitar cada planeta de No Man’s Sky por apenas 1 segundo, levaria cerca de 500 bilhões de anos para explorar todo o universo do jogo. Isso é mais de 30 vezes a idade do universo real, que tem aproximadamente 13,8 bilhões de anos.
  7. Multiplayer oculto nos primeiros anos: No lançamento, o jogo prometia multiplayer, mas muitos jogadores ficaram decepcionados ao perceber que, embora pudessem estar no mesmo planeta, nunca se viam. A Hello Games eventualmente introduziu um verdadeiro modo multiplayer anos depois, surpreendendo jogadores que tinham perdido as esperanças.
  8. Atualizações que expandem ainda mais o universo: Embora o jogo já tenha um número absurdo de planetas, as atualizações contínuas adicionam novos biomas, novos tipos de planetas e criaturas, e até novas formas de interagir com o universo. Isso significa que o universo de No Man’s Sky não só é vasto, mas também está sempre evoluindo.
  9. A mesma fórmula básica que cria o caos ou a ordem: O algoritmo de No Man’s Sky é como uma receita de bolo universal, mas com ingredientes quase infinitos. Uma pequena mudança na seed pode gerar um planeta exuberante cheio de vida ou um deserto estéril sem atmosfera. O mais interessante é que os mesmos princípios matemáticos podem produzir tanto a beleza quanto a desolação.
  10. Um sistema que combina ciência real com ficção: Muitos dos conceitos de astrofísica usados no jogo são inspirados na ciência real. Os desenvolvedores estudaram fenômenos como buracos negros, formação de estrelas, e bioformas extraterrestres para dar autenticidade ao universo gerado, embora tudo seja moldado de forma a caber na narrativa fictícia do jogo.

Conclusão: o horizonte é apenas o começo

No Man’s Sky é um triunfo da imaginação humana e da tecnologia, oferecendo uma experiência que mescla exploração, ciência e o imprevisível. O jogo nos lembra que o universo, seja ele virtual ou real, é vasto demais para ser completamente compreendido ou controlado. Ele nos desafia a explorar, a imaginar o que está além e a nos perder em um mundo que não possui fronteiras visíveis — exceto aquelas que nossa própria curiosidade decide traçar.

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