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22 dez 2024, dom

O céu está caindo: Por que as fiações ainda estão nos postes e não debaixo da terra?

Em meio à paisagem urbana brasileira, um verdadeiro emaranhado de fios sobrevoa nossas cabeças. Postes abarrotados de cabos de eletricidade, telefonia, internet e, mais recentemente, fibra óptica, tornam as ruas caóticas, visualmente poluídas e perigosas. A questão que se repete nas mentes de muitos é: por que esses fios ainda não foram colocados no subsolo? Será o custo? A complexidade? Ou há algo mais oculto nesse dilema?

O Preço Real de Enterrar os Fios

Quando se trata de infraestruturas subterrâneas, o primeiro argumento contra é sempre o custo. Construir galerias e dutos subterrâneos parece uma solução mais lógica do que deixar os cabos expostos a intempéries e acidentes. No entanto, estima-se que enterrar as fiações em áreas urbanas pode custar até 10 vezes mais do que mantê-las aéreas. Isso inclui a necessidade de escavar ruas, realocar tubulações de água e esgoto, e depois realizar o pavimento novamente. Só em São Paulo, um estudo de 2018 apontou que o custo para enterrar a fiação em uma única rua pode ultrapassar R$ 1,5 milhão por quilômetro.

Mas a pergunta que surge é: o preço elevado compensa? O investimento é pesado no curto prazo, mas cidades que adotaram essa abordagem, como Curitiba, afirmam que a longo prazo, a manutenção dos cabos subterrâneos é mais barata, já que os custos com reparos e quedas de energia provocados por tempestades e ventos fortes são drasticamente reduzidos.

Por que Não Criar Galerias Vazadas ao Redor das Ruas?

Alguns especialistas questionam por que, em vez de enterrar os cabos diretamente, não se criam galerias ocas, acessíveis a técnicos, para simplificar a manutenção. A ideia, teoricamente, seria prática: galerias de fácil acesso, sem a necessidade de escavações massivas a cada vez que um cabo precisa ser reparado. No entanto, os desafios técnicos são imensos. Em primeiro lugar, o solo das cidades é sobrecarregado com outras infraestruturas — tubos de água, gás, esgoto e sistemas de drenagem — o que tornaria a instalação de novas galerias muito mais complexa. Além disso, galerias exigem manutenção constante e um sistema de ventilação para evitar umidade, o que poderia corroer cabos e tornar o sistema inseguro.

Cidades como Paris e Londres já possuem sistemas subterrâneos de energia e comunicação, mas isso veio com um preço colossal e um planejamento cuidadoso de décadas. Tokyo, por exemplo, concluiu 90% da sua transição de cabos aéreos para subterrâneos, mas enfrentou desafios como terremotos e a alta densidade populacional. Esses exemplos nos mostram que, enquanto a ideia de galerias vazadas é atraente, ela não é isenta de obstáculos.

A Estética em Jogo: Quantos Fios Cabem em Um Poste?

Aqui no Brasil, a situação tem se agravado com o aumento das empresas de telecomunicação e provedores de internet, especialmente nas grandes cidades. Novas empresas, ao chegarem no mercado, simplesmente passam seus cabos nos mesmos postes já saturados, muitas vezes sem remover os fios antigos. Isso resulta em uma rede caótica de cabos, que muitas vezes ficam soltos e, em alguns casos, até chegam a cair nas ruas, aumentando o risco de acidentes.

Na Avenida Paulista, em São Paulo, há postes que suportam mais de 40 cabos diferentes, entre eletricidade, internet, telefonia e outros. Essa desorganização é não só uma questão de estética, mas também de segurança. Relatos de curto-circuitos e até incêndios provocados pela sobrecarga nos postes não são incomuns. Mais que isso, alguns especialistas alertam que essa prática pode representar um risco de choques elétricos para transeuntes, especialmente em dias de chuva, quando os cabos ficam mais vulneráveis.

É Assim No Mundo Todo?

Enquanto em países como Alemanha e Suíça a maior parte da fiação já é subterrânea, aqui no Brasil apenas 4% das cidades adotam essa prática. Cidades europeias justificam o investimento pela preservação de seus centros históricos e pela melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. Em Barcelona, a fiação foi colocada no subsolo como parte de um projeto de revitalização urbana, e o resultado foi uma cidade com menos quedas de energia e ruas mais limpas. Nova York, por outro lado, ainda possui uma vasta quantidade de fios aéreos, especialmente em áreas periféricas, mas tem trabalhado para migrar parte dessa infraestrutura ao subsolo após eventos climáticos catastróficos, como o furacão Sandy.

No Brasil, poucas cidades estão fazendo esse movimento. Curitiba, conhecida por suas inovações urbanísticas, já adotou a fiação subterrânea em alguns bairros centrais, mas o projeto ainda está longe de ser expandido para a cidade inteira. A cidade de Balneário Camboriú também se destaca, tendo investido em fiação subterrânea para melhorar o visual das ruas turísticas.

Para Onde Vamos?

Diante de tantos fios e da lentidão em adotar sistemas mais modernos, fica a pergunta: onde vamos parar? Há propostas que buscam a integração de tecnologias sem fio com fiação subterrânea, como em Cingapura, onde a tecnologia 5G já está sendo usada para substituir parte da necessidade de cabos de telecomunicações. A ideia é que, à medida que avançamos para um mundo mais conectado e digital, a necessidade de cabos físicos diminua.

Enquanto o Brasil ainda engatinha na adoção de infraestruturas subterrâneas, as soluções parecem estar no horizonte. Para muitos, a transição é inevitável, ainda que demore. A pressão para uma infraestrutura mais moderna, segura e esteticamente agradável está crescendo, e com o tempo, o emaranhado de cabos que cobre as cidades pode finalmente desaparecer do nosso campo de visão — pelo menos, é o que esperamos.

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